Minha terra tem palmeiras, Minha terra
tem ladroeiras,
Onde canta o Sabiá; Onde roubar nada dá;
As aves, que aqui gorjeiam, Os corruptos, que aqui saqueiam,
Não gorjeiam como lá. Não saqueiam, como lá.
Onde canta o Sabiá; Onde roubar nada dá;
As aves, que aqui gorjeiam, Os corruptos, que aqui saqueiam,
Não gorjeiam como lá. Não saqueiam, como lá.
Nosso céu tem mais estrelas, Nosso réu tem
mais regalias,
Nossas várzeas têm mais flores, Nossas cadeias mais
mordomias,
Nossos bosques têm mais vida, Nossos bancos têm taxas lesivas,
Nossa vida mais amores. Nossas vidas são mais vazias.
Nossos bosques têm mais vida, Nossos bancos têm taxas lesivas,
Nossa vida mais amores. Nossas vidas são mais vazias.
Em cismar, sozinho, à noite, Em xingar,
sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá; Minha terra é de chorar;
Minha terra tem palmeiras, Minha terra tem ladroeiras,
Onde canta o Sabiá. Onde roubar em nada vai dar.
Mais prazer eu encontro lá; Minha terra é de chorar;
Minha terra tem palmeiras, Minha terra tem ladroeiras,
Onde canta o Sabiá. Onde roubar em nada vai dar.
Minha terra tem primores, Minha terra
tem corruptos,
Que tais não encontro eu cá; Que tais não encontro eu cá;
Em cismar –sozinho, à noite– Em xingar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá; Minha terra é de chorar ;
Minha terra tem palmeiras, Minha terra tem ladroeiras,
Que tais não encontro eu cá; Que tais não encontro eu cá;
Em cismar –sozinho, à noite– Em xingar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá; Minha terra é de chorar ;
Minha terra tem palmeiras, Minha terra tem ladroeiras,
Onde canta o Sabiá. Onde rouba o
marajá.
Não permita Deus que eu morra, Não permita Deus que
eu morra,
Sem que eu volte para lá; Sem que eu veja isso acaba;
Sem que desfrute os primores Sem que fiquem impunes
Que não encontro por cá; Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras, Sem qu’inda aviste na cadeia,
Onde canta o Sabiá. Onde rouba o marajá.
Sem que eu volte para lá; Sem que eu veja isso acaba;
Sem que desfrute os primores Sem que fiquem impunes
Que não encontro por cá; Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras, Sem qu’inda aviste na cadeia,
Onde canta o Sabiá. Onde rouba o marajá.
GONÇALVES DIAS
De Primeiros cantos (1847) MARCO ANTONIO ALVES
(22/04/2014)